O sucesso das compras com um clique
Postado por Ricardo Schwalfemberg


O comércio on-line de roupas e acessórios está mudando os hábitos de consumo dos brasileiros. As vendas on-line de vestuário no país simplesmente dobraram de volume no ano passado, e neste devem dobrar novamente. O Google aproveitou a tendência e lançou o Boutique.com, endereço que reúne as maiores lojas do varejo de roupas dos Estados Unidos. O Brandsclub é hoje o maior site de descontos em roupas na internet brasileira. Lançado simultaneamente em dez países em 2009, ele tem 2,3 milhões de clientes associados no Brasil.
(Revista Veja – SP)

Como aproveitar o comércio on-line de roupas e acessórios, que, aqui e no exterior,

está mudando os hábitos de consumo dos brasileiros

CAROLINA ROMANINI

 

Um dos aspectos mais fascinantes do avanço tecnológico é a forma com que a internet abriu, para milhões de empresas, as portas para novos mercados e novos consumidores. Mas, mesmo nesse universo de rápida expansão, contam-se nos dedos exemplos de explosão igual à do comércio de roupas no Brasil. As vendas on-line de vestuário no país simplesmente dobraram de volume no ano passado, e neste devem dobrar novamente. Dessa forma, o país se tornou expoente de uma tendência global. Nos Estados Unidos, o comércio de vestuário é o segmento do e-commerce que mais cresce. No ano passado, os americanos gastaram 27 bilhões de dólares em compras de roupas on-line. Apesar dos problemas econômicos do país, estima-se que até 2012 esse total supere a marca de 37 bilhões de dólares, valor equivalente ao PIB do Uruguai.

Com tal perspectiva de bons negócios, não surpreende que, na semana passada, o Google tenha lançado o seu Boutique.com. Não é exatamente uma loja on-line, mas um endereço que reúne as maiores lojas do varejo de roupas dos Estados Unidos. O projeto do Google é, no futuro, dar dimensão global ao site. O Boutique.com é rico em recursos que facilitam as compras e as tornam mais divertidas. Alguns exemplos: se o freguês informar suas cores e estilos preferidos, poderá receber sugestões de acordo com o seu gosto pessoal. Basta clicar na foto de uma celebridade para adquirir um modelo igualzinho, inclusive vestidos usados para desfilar no tapete vermelho da ce-rimônia do Oscar.

Uma das complicações da compra de roupa pela internet – o medo de adquirir uma peça de tamanho errado ou depois não gostar do caimento – está, em parte, amenizada. O comércio on-line brasileiro adotou tamanhos em centímetros para contornar a falta de padronização nas medidas utilizadas pelos fabricantes. Para aumentarem o sentimento de segurança do consumidor, os bons sites aceitam trocar as compras ou mesmo reembolsar o dinheiro de clientes insatisfeitos. Uma qualidade da compra on-líne é a comodidade. Pode-se olhar a roupa por quanto tempo for necessário, ampliar a imagem para analisar os detalhes, co-locar e tirar a mercadoria da sacola quantas vezes se tiver vontade. Isso tudo no conforto de casa, aproveitando o tédio de uma sala de espera de aeroporto ou, para quem pode se permitir ao luxo, num momento de ócio no trabalho. Há também o atrativo do preço. Muitas lojas virtuais brasileiras são do tipo outlet – ou seja, vendem peças de ponta de estoque com descontos.

O Brandsclub é hoje o maior site de descontos em roupas na internet brasileira. Lançado simultaneamente em dez países em 2009, ele tem 2,3 milhões de clientes associados no Brasil, um galpão de estoque de 10000 metros quadrados nos arredores de São Paulo e prevê um crescimento nas vendas de 500%. A média de desconto das mer-cadorias em oferta é de 70%, e pode chegar a 90% em algumas peças. O modelo de outlet físico pode estar demorando para emplacar no país, mas as lojas virtuais de desconto caíram no gosto do brasileiro. “Quando acaba a temporada, ainda que a marca faça uma liquidação, sempre sobra alguma coisa no estoque. Com os sites é possí-vel chegar mais perto de 100% de ven-das”, disse a VEJA Paulo Humberg, presidente do Brandsclub. O investi-mento inicial no projeto foi de 10 mi-lhões de dólares. A implantação do si te exigiu mais 17 milhões de dólares, vin-dos de investidores estrangeiros.

Nem sempre é preciso dispor de rios de dinheiro para iniciar um negócio na internet. Como já é lendário nessa atividade, muitas vezes basta uma boa ideia. Cinco anos arras, os cariocas Rodrigo David e Fabio Seixas criaram uma loja on-line, a Carniseteria. No início, havia apenas oito estampas de camiseta para vender. A boa ideia foi estruturar a loja como uma rede social. O site recebe propostas de estampas de qualquer pessoa pela internet. As sugestões são submetidas a votação durante dez dias, e as mais bem colocadas no ranking são confeccionadas e postas à venda. O autor da estampa recebe uma quantia em dinheiro por ela. “É um modelo muito próximo do ínfalível. O risco de a mercadoria encalhar não existe”, diz Rodrigo. Nos primeiros meses da loja, o boca a boca virtual ajudou a fazer a fama das camiseta , que já eram usadas espontaneamente por bandas de rock e apresentadores de TV. Hoje, a Camiseteria conta com 210000 consumidores cadastrados, um catálogo com 100 modelos e 12000 peças em estoque. O preço médio de uma camiseta é 45 reais.

O comércio eletrônico de roupas não vive apenas de liquidação e ideias criativas. Muitas lojas on-line se dedicam a vender modelos e marcas cujo atrativo são o preço alto e a exclusividade. Algumas delas oferecem a possibilidade de adiantar para o consumidor brasíleíro as coleções lançadas na Europa e que, pela ordem natural das coisas, só circulariam por aqui com atraso de vários meses. Recém-chegado ao Brasil, o inglês Farfetch segue essa linha. “As brasileiras de classe A são ex¬tremamente consumistas”, diz Daniela Cecília, diretora da empresa. O site vende a coleção da temporada europeia de estilistas como siena McCanney, Diane von Furstenberg, Vivienne Westwood, Oscar De La Rema, Alexander McQueen, e segue por aí. Uma camiseta de manga curta assinada por McQueen sai por 1140 reais. Este preço inclui os impostos, mas não o frete.

Os brasileiros podem comprar díretamente de sites estrangeiros. e os preferidos são os americanos. A desvalorização do dólar torna os preços convidativos, mas leva um susto quem não prevê as despesas alfandegárias. A alíquota de ímponação cobrada pela Receita Federal é de 60% sobre o total pago em moeda estrangeira – ou seja, a soma do valor da mercadoria com o do frete. Também é preciso pagar o imposto so¬bre circulação de mercadorias (ICMS), cujo percentual varia de um estado para outro. Em São Paulo, por exemplo, é de 18%. Uma estratégia para comprar em lojas americanas que não vendem ao exterior é recorrer às empresas que for¬necem um endereço de entrega nos Estados Unidos, como a SkyBox. Elas cuidam do transporte e da entrega da mercadoria no Brasil – tudo isso é co¬brado, evidentemente. Em uma simulação feita pela reportagem de VEJA, usando os serviços da SkyBox, um par de sapatilhas com estampa de onça da marca Prada (preço original, 695 dólares), adquirido na loja on-líne da rede Neiman Marcus, uma das maiores nos Estados Unidos, chegaria ao Brasil custando 1500 dólares, o equivalente a 2600 reais.

O grande beneficio do comércio eletrônico é a eliminação das distâncias. Um morador de Tabatinga. cidade amazônica de difícil acesso na fronteira com a Colômbia e o Peru, pode receber pelos Correios roupas só disponíveis em poucas lojas do Rio ou São Paulo. Ou mesmo fazer suas compras num site americano ou inglês, adquirindo produtos difíceis de encontrar no Brasil. No jargão do comércio eletrônico, essa é a grande diferença entre as lojas on-line e as off-line. Na verdade, as duas modalidades estão se tomando irmãs siamesas. Cinco meses atrás, a Carmim, especializada em jeans, abriu sua loja virtual. As vendas on-line respondem hoje por 15% dos negócios da empresa. “Temos 35000 visualizações de página por dia e já enviamos pedidos para mais de dezenove estados, enquanto a Carmim só tem franquias em três”, diz Reynaldo Pasqua, diretor de on-line da marca.

O comércio virtual deve faturar 14,3 bilhões de reais neste ano, de acordo com estimativas do e-bit, empresa que compila os dados de e-commerce no Brasil. Um brasileiro gasta em média 379 reais por compra na internet. Em 2002, eram apenas 2 milhões de brasileiros que compravam na rede. Hoje são 23 milhões. De acordo com uma pesquisa realizada pela Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico e pelo e-bit o brasileiro já perdeu o medo de fazer compras pela internet. O índice de satisfação do consumidor chegou a 86% no primeiro semestre. Em 2002, os donos da Netshoes, então uma rede de oito lojas no centro de São Paulo, decidiram se aventurar no comércio virtual. “A internet só vendia livros, CDs e a linha branca”, diz Roni Cunha Bueno, diretor de marketing da Netshoes. “Por sua vez, nossas lojas não tinham um diferencial. Já na internet temos o melhor serviço.” As lojas físicas foram fechadas em 2007, e a Netshoes é hoje a terceira maior loja de comércio eletrônico no Brasil, de acordo com a consultoria americana comScore. Atualmente, a empresa administra outros catorze sites, entre eles as lojas oficiais do Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e de marcas como Havaianas e Timberland. A Netshoes já investiu mais de 1 milhão de dólares no site para comportar as compras para a Copa do Mundo e a Olimpíada. Não parece haver limite quando as compras podem ser feitas com o mouse na mão.

COM REPORTAGEM DE ALEXANDRE SALVADOR

Revista Veja – SP – 01/12/2010

 

 

 
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