A crença de que o Brasil está imune a ameaças de catástrofes naturais começa a perder força, especialmente em relação à formação de tornados. Um levantamento feito pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura (Cepagri), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, mostra que os registros desse tipo de fenômeno no país cresceram mais de cinco vezes desde o início da década de 1990. Para especialistas, no entanto, o dado pode ser apenas um indício de que ele sempre existiu por aqui. O que não havia era tecnologia para monitorá-lo.
Embora não seja possível dizer que a ocorrência de tornados é mais frequente nos dias de hoje, para os especialistas, o que mais chama a atenção é a voracidade deles nos últimos anos. “A intensidade, e não a frequência, é o que temos observado. Isso sim, é resultado da diferença de temperaturas. Hoje, elas estão mais elevadas porque regiões de Santa Catarina, por exemplo, que não eram habitadas, passaram a ter asfalto, concreto. A humanização pode ter causado um aumento da temperatura na região, o que contribui para deixar o tornado mais intenso”, analisa a coordenadora do Laboratório de Climatologia da Universidade de Brasília (UnB), Ercília Torres.
Para os meteorologistas, a ocorrência de tornados mais intensos no país pode ser um reflexo do aquecimento global, associado a outros fenômenos, como o incremento das chuvas, por exemplo. “Em São Paulo, temos observado um aumento de 30% no volume de precipitações nos últimos 22 anos”, afirma Hilton Silveira. “Os tornados tendem a aparecer em tempestades mais fortes”, acrescenta.
A ocorrência de três tornados num único dia em Santa Catarina, na noite de 7 de setembro, ajuda a reforçar essa tese. Os ventos, com velocidade perto dos 200km/h, destelharam casas, viraram carros e retorceram estruturas metálicas. Os fenômenos, que atingiram as cidades de Guaraciaba, Salto Veloso e Santa Cecília, chegaram ao nível F2 (181 a 250km/h) da Escala Fujita, que vai até F5 (421 a 530km/h).
Entre 1991 e 2000, o Cepagri não registrava mais do que um tornado por ano em todo o país. Hoje, contabiliza de quatro a cinco. “Em 2005, houve seis casos nos nossos registros. Sempre tivemos acesso a imagens de satélites, mas elas não são precisas para prever tornados e, normalmente, os relatos de pessoas são a forma mais eficaz de monitoramento. O que observo é que, hoje, com câmeras e celulares, é muito mais fácil flagrar um tornado, o que pode explicar o aumento nos registros”, avalia o pesquisador Hilton Silveira, diretor do centro.
Prevenção
Embora seja impossível prever quando um fenômeno desses vai ocorrer, os meteorologistas afirmam que ele é relativamente comum na região entre o Mato Grosso do Sul e o Rio Grande do Sul, principalmente em períodos de mudança de estações — a primavera começa às 18h18 do próximo dia 22. O tornado é uma espécie de redemoinho formado em meio a tempestades, a partir do encontro de massas de ar com diferentes temperaturas. “É o resultado do encontro de massas quentes e frias”, explica Ercília Torres.
O meteorologista Flávio Varone, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Rio Grande do Sul, afirma que a região sempre foi alvo de reações mal-humoradas dos ventos e nuvens. “Tem a umidade que vem do Norte, a do oceano, e frentes frias que surgem da região polar. Quando elas se cruzam, e isso ocorre bem nessa região do país, ocorre nebulosidade, chuvas fortes, granizo e os ventos ficam desordenados”, afirma.