AOS AMIGOS QUE PARTIRAM
Artigo escrito por Osvaldo Henrich Filho, o Prego, e publicado no Jornal Integração, edição de sábado 31 de outubro de 2009. Pela sua essência, tomo a liberdade de, com a devida autorização, publicá-lo neste Blog. Os cincoentões taperenses, que viveram o tempo descrito no artigo, com certeza vão se deliciar. E se emocionar também, assim como eu, que vivo nestas plagas há 30 anos que se completarão neste dia 19 de novembro.
Osvaldo Henrich Filho
Quando passamos dos cinqüenta anos, começamos a ficar nostálgicos, sentimento que se intensifica com a chegada do Dia de Finados.. Quero falar aqui daquelas pessoas que o mundo nos apresentou e passamos a adotá-las em nossas vidas, especialmente os amigos de nossa juventude e que hoje não estão mais entre nós.
Nos anos 60, recriamos o juvenil do América, reunindo um grande número de adolescentes de Tapera, comandados pelo Sr. Ernane Costa, na época gerente regional da CEEE em nossa cidade. O Seu Ernane, como o tratávamos, foi para muitos daquela geração um segundo pai. Ele nos cobrava, corrigia, xingava, mas especialmente nos ensinava o que mais queríamos aprender: a jogar futebol. Todos os sábados que antecediam os jogos havia uma preleção em sua casa, fazíamos um circulo grande ao seu redor e, sentados, ouvíamos atentamente seus ensinamentos.
Certa feita arrumamos uma confusão num jogo contra o Guarany de Espumoso, que só terminou quando Seu Ernane, para espanto geral, puxou de um revólver. Era assim, para ele éramos todos seus filhos e se fosse necessário compraria qualquer briga.
O primeiro amigo que perdemos foi o Mário Telmo Pastório, ele tinha apenas 16 anos quando faleceu afogado nas águas do Rio Colorado. Aquela morte nos impressionou muito, éramos adolescentes e talvez pensássemos ser eternos. O Telmo, junto com o Walter Crestani e o Nei Mânica, eram os melhores do time. Eu nutria um carinho especial por ele, pois, como era o titular da lateral esquerda e seu reserva imediato, dependia dele para jogar. E quando mal começava o segundo tempo erguia o braço fazendo sinal para ser substituído. O Seu Ernane olhando contrariado para o banco e, parecendo compreender o gesto de amizade, ordenava que eu entrasse. Por uma fatalidade e com muita tristeza, acabei me tornando titular.
Anos mais tarde, quando já éramos adultos, mas ainda muito jovens, faleceu o Guido Mombelli, vítima da violência urbana. Novamente ficamos muito abatidos, não tínhamos 30 anos, na plenitude da juventude e a morte interrompia todos os sonhos daquele que entre nós exercia uma grande liderança. Um exemplo disto foi a eleição precoce para presidente da UTES(União Taperense dos Estudantes) numa época que o cargo oferecia um certo status ele, foi o mais jovem a assumir o cargo.
Nos anos 80 faleceu o nosso goleiro Adalberto Crestani, o Betinho, vítima de uma doença que o levou prematuramente, antes de completar 40 anos. O Betinho, sempre sorridente e de bem com a vida, nada lhe demovia de duas c onvicções: Colorado e do PDT. Numa das últimas vezes que falei com ele, numa tarde de eleição perguntei: “Veio votar no irmão?”(seu irmão era candidato do PMDB), ao que me respondeu de pronto e bem-humorado: “Ele que troque de partido”, pois só votaria no PDT.
Recentemente recebemos a notícia de mais uma morte, a do nosso zagueiro Jorge Gonçalves, que faleceu no longínquo Goiás sem poder contar com o pranto dos amigos. Jogava elegante, muito calmo, e bom na bola aérea.
Queridos amigos, nós, agora cinqüentões, já aprendemos o quão verdadeiro é o epitáfio: “Nós que aqui estamos por vós esperamos” e podemos dizer que eles serão eternamente lembrados pelo menos enquanto seus amigos viverem.
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