POVO SEM MEMÓRIA - Por João Pedro Flach

Caro Leonardo Mayer

Escrevo em nome do meu pai, João pedro Flach, taperense sempre atento ao seu blog e às notícias que saem no tapera.net. Já tem alguns meses que ele tem me pressionado a entrar em contato e tentar conseguir um espaço para cobrar da população de Tapera um pouco mais de atenção com as personalidades nascidas na cidade. A maior revolta dele tem sido o péssimo habito dos políticos em homenagear gente como João Goulart e Machado de Assis com nomes em praças, avenidas e ginásios, ou colocar nomes de Estados como Goiás ou Pará, quando gente como ruas como o João Batistela, prefeito 3 vezes da cidade, ou Isidoro Simon caem no esquecimento. O texto que envio abaixo foi feito por ele.

Povo sem memória

Tenho andado saudosista. Não nego. Admito, ainda, que muita coisa tem me incomodado nos últimos dias. A falta de memória que temos quando o assunto é agradecer àqueles que muito nos deram, em vida, ou prestar as devidas homenagens aos que já foram, é uma. A péssima mania, desenvolvida nesse mundo pós-moderno, de darmos mais valor a grandes personalidades, que pouco ou nada fizeram por nós, em prejuízo dos que muito fizeram para deixar nossas vidas mais fáceis, outra.

Escrevo para falar de nós, desmemoriados taperenses, que deixamos alguém extremamente importante para a cidade praticamente no esquecimento nos últimos quatro anos. Fizemos questão, sabe-se Deus porque, de homenagear Tancredo Neves com uma rua e dar, a tantas outras, nomes de personalidades nacionais que nada contribuíram com Tapera, mas deixamos o Dr. Hercílio Lenoir Steffens sem nada. Médico sanitarista e vereador por oito legislaturas, ele muito fez por todos nós. Atendendo dos ricos aos mais necessitados, sempre pronto para cuidar da saúde dos taperenses e do futuro da cidade. Conhecido por demais pelas bandas Rio-grandenses, o Dr. Hercílio faleceu em março de 2003 e, a menos que eu muito esteja enganado, recebeu como única homenagem a honra de dar nome à ala de vacinas do Centro de Atendimento Integrado à Saúde (Cais) de Tapera. A sala funciona exatamente no consultório em que o médico atendeu durante anos.

Acredito que os vereadores dessa legislatura, bem como centenas de cidadãos taperenses, não esqueceram do ex-colega de Câmara que tanto fez por nós. Entendo que nossa cidade não tem feito grandes inaugurações de obras e que, seja por acaso ou por falta de disposição, a única coisa que estejam aguardando seja uma grande obra para prestar as devidas homenagens. A minha sugestão é: façamos um plebiscito para mudar o nome de alguma rua, avenida ou escola! Encabeçado por algum vereador ou veículo local de comunicação interessado em homenagear o Dr. Hercílio. Sei que não é simples mudar o nome de uma rua, mas garanto que o número de pessoas interessadas em ter uma avenida ou uma escola com o nome do Dr Hercílio seja muito maior do que os interessados em trafegar por uma "Avenida XV de Novembro" ou estudar em uma "Escola Tancredo Neves". Mesmo longe, como cidadão taperense, eu sei que eu prefiro homenagear alguém que sempre me deu tanto, do que aqueles que eu só conheço dos livros de história.

Isso vale também para tantos outros nomes, muitos deles de pessoas que poderiam receber essa homenagem ainda em vida, como o João Batistela ou o Isidoro Simon, que muito por nós fizeram e engrandeceram minha cidade mas, graças à correria do dia-a-dia e à falta de preparo dos nossos políticos, acabam caindo no esquecimento. Quero poder, daqui há alguns anos, ir para minha cidade e poder explicar para o meu neto recém-nascido, João Pedro Flach Martino, quem foram essas pessoas que realmente fizeram algo por Tapera. E mais do que isso, os taperenses que foram embora da cidade, sempre podem voltar e lembrar, de forma vívida, daqueles que ajudaram a fazer de Tapera o marco que é em nossas vidas. Cabe a nós passarmos para frente a nossa própria história e homenagear nossas próprias "celebridades" é apenas a ponta do iceberg nesse caso.

João Pedro Flach
-- Alessandra Flach (Grá)8154-6680
"Ao que me consta, estou bem
mas o espelho não é o mesmo todos os dias". (Martha Medeiros)